Josef Newgarden está predestinado
ao bicampeonato da Formula Indy. Só uma reviravolta improvável ou um erro muito
grotesco arrancam a taça do jovem piloto da Penske, que tomou conta do time
desde sua chegada, em 2017. O que ainda pode acontecer, vide o ocorrido com seu
antecessor no carro #2, Juan Pablo Montoya, em 2015: o colombiano bateu no
próprio companheiro Will Power na prova decisiva, em Sonoma, caiu para último e
chegou em sexto. Scott Dixon venceu a prova e reverteu uma vantagem de 47
pontos, com 104 tentos em jogo, para empatar com o latino na classificação do
campeonato e levantar o caneco pelo número de vitórias.
Improvável, no
entanto, que isso se repita. Até porque ninguém venceu mais do que Newgarden,
quatro vezes, no atual campeonato. Simon Pagenaud, um dos pretendentes ao
título, ainda pode igualar o feito, mas perderia no número de segundos lugares,
em caso de necessidade de invocar os critérios de desempate. E JoNew, como o
chama o lendário jornalista Robin Miller, parece bem consciente disso: em
Mid-Ohio, jogou fora metade dos pontos que somaria em tentativa desastrada de
ultrapassagem na última volta. Também no giro final, em Gateway, quase foi
abalroado por um retorno afoito ao traçado de Santino Ferrucci, o que lhe
descontou mais alguns pontos. Mas em Portland, com a cautela e destreza que
mostrou, nem o furacão Dorian o derrubaria.
Incrível como a
história de Newgarden reprisou a de Dixon na mesma prova do ano passado. Em
2018, o neozelandês parou na largada na caixa de areia, em meio a uma nuvem de
poeira, num acidente com quatro carros, com direito a capotagem, em que só ele
escapou. Desta vez, Josef se safou por um triz de acertar, ainda na primeira
chicane, os carros de Graham Rahal e Conor Daly, vítimas da confusão com, vejam
só, quatro carros, causada por Rahal logo após o acionamento da bandeira verde.
Tal qual Dixon, caiu para o fim do pelotão. Como o Iceman da Indy, teve cabeça
para se recuperar, adotar a estratégia correta e ainda desviar de uma fechada
sanguinária de Marco Andretti para chegar ao quinto lugar – a mesma posição
final de Dixie em Portland no último ano. Preciso relembrar quem foi conquistou
o título na temporada passada?
O pentacampeão,
aliás, não merecia um fim de semana tão sofrido. Depois de ser derrubado por um
problema no radiador em Gateway, ficou inexplicavelmente parado por uma falha
numa bateria, quando liderava com sobras e já tinha até se livrado dos pneus
macios e seu desgaste precoce. As quebras nas duas últimas provas interromperam
sequência de quatro corridas em primeiro ou segundo lugar do piloto da Chip
Ganassi e, por consequência, sua recuperação em busca do hexa. Mesmo que ele
seja Scott Dixon, é dificílimo que consiga reverter 85 pontos na corrida
decisiva, em Laguna Seca – um mero vigésimo lugar de Newgarden já o elimina da
contenda, mesmo que some todos os 104 pontos possíveis no fim de semana
derradeiro do ano.
A vitória, com
autoridade, ficou para Will Power, que havia perdido a pole por 19 milésimos
para Colton Herta, após ter achatado os pneus na sua penúltima tentativa no
qualify. Na corrida, administrou a borracha melhor do que o jovem filho de
Bryan, não sofreu com problemas como Dixon e soube controlar o ímpeto do
talentoso Felix Rosenqvist, o único que de fato ameaçou sua liderança – longe da
briga pela vitória, Alexander Rossi deve ter ficado satisfeito em descontar
cinto pontos para Newgarden com seu terceiro lugar. Escreve outro capítulo alto
numa temporada também repleta de baixos, em especial em sua primeira metade, que
o distanciaram da briga pelo título. Mas ele ainda é capaz de vencer corridas, o
que agrada a Penske e o faz conservar seu emprego. Aliás, Power igualou
Sebastién Bourdais como o sexto maior vencedor da Indy em todos os tempos, com
37 conquistas, apenas duas a menos do que o lendário Al Unser, que ocupa a
última vaga do Top5 histórico.
Impossível
terminar sem exaltar o oitavo lugar de Matheus Leist – com direito a pressão no
final pra cima de Simon Pagenaud, de longe o aspirante ao título mais discreto
do fim de semana. Aliás, mesmo tendo descontado 20 pontos do líder nas quatro
provas anteriores a Portland, o francês só teve grandes atuações em Toronto e
Pocono nesta segunda metade do ano. Voltemos a Leist: o décimo lugar que ocupava
até a última amarela já era sensacional por sua condição de equipamento. Chegou
a ser terceiro em tentativa de estratégia diferente, que não vingou pois os
líderes conseguiram economizar o suficiente para igualar a janela alternativa.
Quando o Pace Car entrou, a menos de dez voltas do fim, calçou pneus macios e
zerados e ganhou mais dois postos. A segunda melhor posição da carreira,
exatamente uma semana antes de completar 21 anos.
Curioso,
diga-se, que Matheus e Tony, de bom 12º lugar após o inacreditável pódio na
semana passada, tenham conseguido resultados para salvar a honra da A. J. Foyt
ao mesmo tempo em que a equipe perde seu patrocinador: a ABC Supply, depois de
15 anos, vai embora no ano que vem. A permanência dos brasileiros e da própria
equipe na categoria tornam-se grandes pontos de interrogação, ainda que o
SuperTex em pessoa tenha jurado ontem, direto de seu rancho, no Texas, que o
time estará no grid em 2020.
Oremos,
pois. Creio que estará mesmo. Tal qual o #1 pintado outra vez na fuselagem do
carro de Josef Newgarden. Que, bem resumidamente, pode ser campeão até com um
quinto lugar mesmo em caso de vitória de Rossi ou Pagenaud em Laguna Seca. Ou
até com um décimo posto caso um deles chegue, no máximo, em segundo. Roger
Penske sabia muito bem o que estava fazendo, há dois anos, quando aposentou
Montoya da Indy para buscar o garoto. A ele, cabe honrar a confiança do chefe e
não repetir a mancada de quatro anos atrás do colombiano.
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