terça-feira, 3 de setembro de 2019

Newgarden, predestinado ao título! By Geferson Kern


     Josef Newgarden está predestinado ao bicampeonato da Formula Indy. Só uma reviravolta improvável ou um erro muito grotesco arrancam a taça do jovem piloto da Penske, que tomou conta do time desde sua chegada, em 2017. O que ainda pode acontecer, vide o ocorrido com seu antecessor no carro #2, Juan Pablo Montoya, em 2015: o colombiano bateu no próprio companheiro Will Power na prova decisiva, em Sonoma, caiu para último e chegou em sexto. Scott Dixon venceu a prova e reverteu uma vantagem de 47 pontos, com 104 tentos em jogo, para empatar com o latino na classificação do campeonato e levantar o caneco pelo número de vitórias. 
     Improvável, no entanto, que isso se repita. Até porque ninguém venceu mais do que Newgarden, quatro vezes, no atual campeonato. Simon Pagenaud, um dos pretendentes ao título, ainda pode igualar o feito, mas perderia no número de segundos lugares, em caso de necessidade de invocar os critérios de desempate. E JoNew, como o chama o lendário jornalista Robin Miller, parece bem consciente disso: em Mid-Ohio, jogou fora metade dos pontos que somaria em tentativa desastrada de ultrapassagem na última volta. Também no giro final, em Gateway, quase foi abalroado por um retorno afoito ao traçado de Santino Ferrucci, o que lhe descontou mais alguns pontos. Mas em Portland, com a cautela e destreza que mostrou, nem o furacão Dorian o derrubaria.
     Incrível como a história de Newgarden reprisou a de Dixon na mesma prova do ano passado. Em 2018, o neozelandês parou na largada na caixa de areia, em meio a uma nuvem de poeira, num acidente com quatro carros, com direito a capotagem, em que só ele escapou. Desta vez, Josef se safou por um triz de acertar, ainda na primeira chicane, os carros de Graham Rahal e Conor Daly, vítimas da confusão com, vejam só, quatro carros, causada por Rahal logo após o acionamento da bandeira verde. Tal qual Dixon, caiu para o fim do pelotão. Como o Iceman da Indy, teve cabeça para se recuperar, adotar a estratégia correta e ainda desviar de uma fechada sanguinária de Marco Andretti para chegar ao quinto lugar – a mesma posição final de Dixie em Portland no último ano. Preciso relembrar quem foi conquistou o título na temporada passada?
     O pentacampeão, aliás, não merecia um fim de semana tão sofrido. Depois de ser derrubado por um problema no radiador em Gateway, ficou inexplicavelmente parado por uma falha numa bateria, quando liderava com sobras e já tinha até se livrado dos pneus macios e seu desgaste precoce. As quebras nas duas últimas provas interromperam sequência de quatro corridas em primeiro ou segundo lugar do piloto da Chip Ganassi e, por consequência, sua recuperação em busca do hexa. Mesmo que ele seja Scott Dixon, é dificílimo que consiga reverter 85 pontos na corrida decisiva, em Laguna Seca – um mero vigésimo lugar de Newgarden já o elimina da contenda, mesmo que some todos os 104 pontos possíveis no fim de semana derradeiro do ano.
     A vitória, com autoridade, ficou para Will Power, que havia perdido a pole por 19 milésimos para Colton Herta, após ter achatado os pneus na sua penúltima tentativa no qualify. Na corrida, administrou a borracha melhor do que o jovem filho de Bryan, não sofreu com problemas como Dixon e soube controlar o ímpeto do talentoso Felix Rosenqvist, o único que de fato ameaçou sua liderança – longe da briga pela vitória, Alexander Rossi deve ter ficado satisfeito em descontar cinto pontos para Newgarden com seu terceiro lugar. Escreve outro capítulo alto numa temporada também repleta de baixos, em especial em sua primeira metade, que o distanciaram da briga pelo título. Mas ele ainda é capaz de vencer corridas, o que agrada a Penske e o faz conservar seu emprego. Aliás, Power igualou Sebastién Bourdais como o sexto maior vencedor da Indy em todos os tempos, com 37 conquistas, apenas duas a menos do que o lendário Al Unser, que ocupa a última vaga do Top5 histórico.
     Impossível terminar sem exaltar o oitavo lugar de Matheus Leist – com direito a pressão no final pra cima de Simon Pagenaud, de longe o aspirante ao título mais discreto do fim de semana. Aliás, mesmo tendo descontado 20 pontos do líder nas quatro provas anteriores a Portland, o francês só teve grandes atuações em Toronto e Pocono nesta segunda metade do ano. Voltemos a Leist: o décimo lugar que ocupava até a última amarela já era sensacional por sua condição de equipamento. Chegou a ser terceiro em tentativa de estratégia diferente, que não vingou pois os líderes conseguiram economizar o suficiente para igualar a janela alternativa. Quando o Pace Car entrou, a menos de dez voltas do fim, calçou pneus macios e zerados e ganhou mais dois postos. A segunda melhor posição da carreira, exatamente uma semana antes de completar 21 anos. 
     Curioso, diga-se, que Matheus e Tony, de bom 12º lugar após o inacreditável pódio na semana passada, tenham conseguido resultados para salvar a honra da A. J. Foyt ao mesmo tempo em que a equipe perde seu patrocinador: a ABC Supply, depois de 15 anos, vai embora no ano que vem. A permanência dos brasileiros e da própria equipe na categoria tornam-se grandes pontos de interrogação, ainda que o SuperTex em pessoa tenha jurado ontem, direto de seu rancho, no Texas, que o time estará no grid em 2020.
     Oremos, pois. Creio que estará mesmo. Tal qual o #1 pintado outra vez na fuselagem do carro de Josef Newgarden. Que, bem resumidamente, pode ser campeão até com um quinto lugar mesmo em caso de vitória de Rossi ou Pagenaud em Laguna Seca. Ou até com um décimo posto caso um deles chegue, no máximo, em segundo. Roger Penske sabia muito bem o que estava fazendo, há dois anos, quando aposentou Montoya da Indy para buscar o garoto. A ele, cabe honrar a confiança do chefe e não repetir a mancada de quatro anos atrás do colombiano.

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