terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Aventura gaúcha em Sebring. Por Roberto Lacombe


Aventura gaúcha em Sebring.

        Quem me conhece sabe que além do fascínio por carros de corrida tenho grande apreço pelo automobilismo americano e neste caso leia-se não só NASCAR mas pela maneira como eles fazem as corridas por lá, inclusive as amadoras. O respeito pelo piloto, a precisão na organização, a infraestrutura dos autódromos e a camaradagem entre as equipes, pilotos e dirigentes amadores, não são encontradas em nenhum outro lugar.

     Desde pequeno quando brincava de autorama (slot-car) eu sempre via anúncios de uma loja em São Paulo chamada Sebring, e lia sobre corridas do Mundial de Marcas (antigo nome da Endurance) sobre as 12H de Sebring, onde pilotos americanos aproveitavam a ocasião para disputar com os pilotos do Mundial de Marcas a glória de vencer a tradicional prova no místico circuito.

     Apreciador das provas do Mundial de Marcas, muito mais que da F1 e outras categorias, nunca me saiu da cabeça apesar de tantos anos passados como profissional de outras áreas, de um dia correr como amador nos US, e Sebring seria uma das pistas escolhidas, Riverside, Watkins Glen, Laguna Seca nos US e Mosport no Canadá também estavam no 'sonho', devido a tradição destes circuitos no campeonato mundial. Mas Sebring seria especial devido ao carisma das 12H. Uma pista que teve Juan Manuel Fangio, Derek Bell, Jo Siffert, Dan Gurney, Carol Shelby, entre seus participantes e Mário Andretti e Steve McQueen disputando a vitória na mais importante corrida não é um circuito qualquer, é mítico.

     Quando soube pela internet em 2014 que alguns pilotos amadores brasileiros de São Paulo que devido ao fechamento de Interlagos pelas reformas para a F1, estavam indo para os US correr provas amadoras de longa duração e o custo era semelhante ao de correr no Brasil, pensei:  - Por que não? 

     Me informei com amigos paulistas que estavam participando destas provas e conheci o Edu Harmell que também corria com um Passat Vermelho na Classic paulista (coincidência pois eu também corria com um Passat vermelho da Classic RS), e ele me deu todas as coordenadas de como funciona o 'esquema' para correr nos US.

     Convidei alguns amigos aqui do sul, O Cleiton Krause, O Erikson Brum e o outros, mas quem topou a parada foi o Arthur Caleffi, piloto da minha equipe aqui no RS e o Edu Harmell convidou o nosso amigo comum Mauro Kern que também é gaúcho e corre aqui na Endurance e na Copa Classic RS, mas mora em SP.

     Feito isso escolhi esta prova (6H de Sebring) organizada pela PBOC - Porsche and BMW Owners Club - Associação dos Proprietários de Porsches e BMWs da América pela mística do circuito, o Edu fez o 'meio-campo' com a Equipe MAD Motorsport de Miami do proprietário preparador Diego, um cubano que não ri, e que tem algumas BMWs E30 6C que correm na categoria SPEC 30 tanto na FARA quanto em provas individuais no sul dos US.

     Os carros são velhos e o lay out de pintura de gosto duvidoso, com uma preparação bem 'mansa' quase carros de track days,  bem longe da maneira como faço meus carros, mas como o que importava era estar em Sebring acelerando, passamos por cima disto.

     Chegando na pista na quarta-feira tínhamos um treino das 18:00h as 20:00h só que anoitece as 18H e eu só conhecia o traçado por filmes, desenhos e vídeos on board do Youtube, mas no papel parecia fácil, não era.

     Fui o primeiro a saír, o circuíto com mais de 6km é totalmente plano com guard-rails e muro de concreto dos dois lados, portanto de dentro do carro, não se sabe para onde vai a próxima curva, não se enxerga a distância, e para piorar, escureceu muito rápido e nosso carro não tinha faróis auxiliares 'cruzados' para vermos os pontos de tangência e saída das curvas, além disso nosso preparador colocou um filme azul nos faróis originais, para identificar o carro à noite, o que ajudava a deixá-los mais fracos e nos deixar com muito pouca visão do traçado, que só tem iluminação na reta dos boxes e num pequeno trecho adiante, ficando a parte de alta do traçado como uma incógnita para os pilotos que não o conheciam.

     Achei o carro 'manco' de motor, pensei: esse carro não está abrindo a borboleta 100%) mas  com um freio e uma suspensão bem feitos, o que nos daria uma segurança para 'terminar' a prova... Depois descobri que essas BMW vem com 180Hps de fábrica e na categoria SPEC a qual participávamos ela é restrita a 150HPs via entrada de ar.

     Neste primeiro dia o Mauro virou o melhor tempo dos três e disse não ter tido dificuldades em 'achar' o traçado, depois descobrimos que ele havia treinado no simulador em casa.

   Na quinta feira tínhamos um treino livre de 1/2 h pela manha e a classificação de 1/2 no final da manhã, optamos por eu fazer o treino livre para 'descobrir' o traçado, o Mauro classificar e o Arthur largar, assim todos andariam 'de dia' o que facilitaria o conhecimento do circuito de 17 curvas!

     Andei bem, virei mais rápido do que havíamos virado na quarta feira, o Mauro também virou no mesmo segundo e o Arthur largou as 15H.

     Fizemos 'stints' de uma hora e meia cada um,  + - 30 voltas, pois era a capacidade do tanque de gasolina do carro,  o segundo a embarcar na barata fui eu, o Arthur havia se enroscado com um Mazda RX7 amarelo e batido de frente no muro por dentro da curva 1, amassando um pouco a frente do carro, quando saí fiquei  trancado na saída do box devido a um PACE CAR de umas 4 voltas, saindo para a pista, fiquei  apavorado com a tremedeira no carro, pensei, esse carro não termina a corrida, parecia que tudo estava desbalanceado, rodas, volante, cardã, etc, mas o carro era resistente e muito bom de curva devido aos pneus Toyo semi-slicks e em duas voltas já estava virando o tempo padrão, entre 2:50 e 2:51 tempo que viramos os tres pilotos durante toda a prova.

     O que mais me chamou a atenção foi a  camaradagem dos pilotos com carros mais rápidos, verdadeiras usinas como Audi R8 de Endurance e Porsches GT3 nos tratavam ao sermos ultrapassados, sempre esperavam eu fazer a curva de baixa para passar nas retas, passei a corrida brigando com Mazdas Miatas, dois prateados, um vermelho e dois amarelos, ultrapassava eles no miolo e tomava nas retas... tive problemas com um piloto de um Camaro Trans AM hiper preparado azul que foi afoito na curva da entrada da reta oposta e me deixou sem espaço para voltar me obrigando a andar pela terra de lado até aprumar a BM de volta a pista.

    A melhor sensação era na curva parabólica Sunset Bend, uma curva de raio longo onde o concreto do piso  tem 25 metros de largura, ela tem duas tomadas e duas tangências, só que chegávamos nela a 185km/h, aí eu copiava o traçado e a freada dos carros à minha frente e ou entrava muito forte, saíndo de lado, ou entrava muito fraco perdendo tempo e traçado devido a pilotos lentos freando demais ou carros mais rápidos e com mais 'chão' que o nosso que contornavam melhor, nos deixando 'segurados no pincel' naquele momento importante pois ali se ganha muito tempo de volta, pois é onde se ganha velocidade de reta.

     A sensação dentro do carro em determinados momentos da prova era de total realização, eu cheguei a ficar emocionado atrás de um PACE CAR, por estar ali realizando um sonho, no meio daqueles Audis, Camaros, Porsches, Mustangs, Miatas, protótipos Radical e outros esquisitices americanas.

     Voltando ao box durante a prova tratava de postar na web para meus amigos gaúchos e seguidores do meu blog a experiência.

      O resultado pouco importava, mas a boa surpresa é que largamos em 53º num grid de 63 carros e chegamos em 20º lugar na geral e 4º na categoria, sendo que dois carros da nossa categoria nitidamente estavam bem fora do regulamento, com aerofólio, cambio sequencial entre outras coisa visíveis.


Me diverti muito, realizei um sonho e recomendo para quem gosta de pilotar como eu.

Roberto Lacombe



2 comentários:

  1. Que experiência!!
    Andar em Sebring de bicicleta, deve ser demais. Competir em Sebring... indescritível.
    Parabens pela coragem e lelo resultado!

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  2. Fabiani C Gargioni #272/03/2016 11:57 PM

    Parabéns Lacombe pelo sonho realizado, eu continuo sonhando com a possibilidade de um dia poder estar numa pista assim !!!

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