terça-feira, 24 de setembro de 2013

Voltando ao assunto 'o automobilismo está morrendo'? By Evandro Flesch


Post do Evandro Flesch  no Grupo VAMOS SALVAR O AUTOMOBILISMO do Facebook:

Vou publicar uma resposta que enviei a um amigo que me perguntou sobre endurance, do porquê de ir tão mal. Por favor, não me matem:

"Esse é o problema Carlos: Todas (isso mesmo, todas) as categorias nacionais, à exceção da Fórmula Truck, Stock Car V8 
e Brasileiro de Marcas (sim, somente essas 3) são amadoras. Inclusive a GT Brasil. Por amador, entenda-se "campeonato de futebol de várzea", onde os participantes jogam apenas por diversão própria. Algumas poucas equipes (menos de 20% do grid) das outras categorias são profissionais, sobrevivem de automobilismo, recebendo patrocínios e expondo imagem. O restante, são pilotos se divertindo e pagando a conta do bolso, como eu ou você indo à um kart indoor. Infelizmente, na Endurance, o nível de amadorismo é de 100%. Não há uma única equipe profissional no Brasil. 




Em algum ponto da história do automobilismo brasileiro algo se perdeu. Desconfio que foram os chefes de equipe e organizadores, que não se atualizaram e deixaram de inovar para concorrer com os outros meios de lazer e entretenimento que surgiram (Televisão, internet, provas de arrancada, baile funk). O público mudou bastante, também. Deixou de ser um público "true" e passou a ser o jovem moderno, que não está nem aí pra nada, só quer se divertir, ir em festas e seguir modas. Não quer aprender. Quer assistir o óbvio, de fácil e imediata compreensão, e não o sutil que faz a diferença. Traçado, tocada, categorias diferentes, não os interessam. Acabou o "espírito". Quer saber "quanto pega de velocidade na reta??". A Nascar captou isso e faz provas na sexta e sábado à noite, é uma "balada". Faz uma "ring-race", com acidentes espetaculares, bom atendimento ao público, etc, etc. Um "show" de automobilismo que cativa o público, vende, entretêm. 




Hoje, no Brasil, a mentalidade dos chefes de equipe é: carro. Deveria ser: Esporte. Eles não se atualizam e a maioria não sabe nem como uma injeção eletrônica funciona (pasme!). Fuçam e fazem como há 40 anos atrás. Não se preocupam com visual, comprometimento, público, entretenimento, competitividade, marketing, patrocinadores ou o que vão fazer em 2014. Apenas fazem a manutenção e o desenvolvimento dos carros que são de propriedade dos pilotos pra que estes "brinquem". E fazem mal-feito porque, apesar dos pilotos muitas vezes terem seu patrocínio pessoal, as equipes não o buscam. As equipes não buscam o profissionalismo, perderam essa visão. Poderiam viver de automobilismo, mas fracassam por não perceberem que o esporte não é só chutar a bola. Contratos, uniforme, satisfazer a torcida, treino incessante, tudo faz parte. Aí, acabam ou cobrando muito caro pelo serviço e afastando os clientes (ao invés de estarem contratando o piloto mais rápido para pilotar o carro da própria equipe) ou realmente fazendo mal-feito por não dedicarem tempo suficiente ao automobilismo. 





Enfim, Endurance talvez seja a categoria mais sensível no mundo. Mesmo as equipes profissionais Top estão sofrendo atualmente. Não dá pra transmitir na TV, ninguém assiste um programa por 24 horas ou mesmo 6 horas; gravado e compactado, fica chato, já aconteceu e todo mundo já sabe quem ganhou e quem bateu. É difícil pra um novo espectador entender (categorias variadas, estratégias de parada muito diferentes, vários pilotos). Endurance é torcida pela equipe, pelo carro, desenvolvimento de tecnologia, marketing enaltecendo as qualidades do carro: performance, resistência, eficiência energética, qualidade. E brasileiro não é apaixonado por carro, é apaixonado por ostentação. Som alto, pintura perolizada e rodão. O carro pode ser um lixo, mas tendo um visual "invocado" e reproduzindo MP3, é o que conta."

3 comentários:

  1. Roberto: eu leio o blog e essa é uma análise pertinente sobre as coisas do automobilismo.

    É verdade que o automobilismo brasileiro não se adaptou aos novos tempos e é necessário que se faça um autocrítica honesta para começarmos a ver, lá para trás o que vem afastando as pessoas das pistas e, mais além, afastando as pessoas da possibilidade de gostarem de automobilismo.

    A palavra chave é adaptação.

    Os tempos são outros e o relógio não vai andar para trás. Sempre vão existir "nichos" parados no tempo, fazendo uma competição apenas para seus participantes e isso também é parte do automobilismo. Porém, isso não paga a conta de manter algo com viabilidade econômica, não gera receita suficiente para as praças que promovem as corridas e não permite o surgimento de um modo de vida voltado as corridas.

    Existe mesmo um "público genérico", a quem o automobilismo diz muito pouco ou nada, que vai a pista apenas como mais um lugar para ir, que poderia ser o shoping ou uma corrida de jet, tanto faz... Mas não é só isso. O público de automobilismo em suas diversas modalidades existe e se torna mais ou menos fiel de acordo com a qualidade das corridas e tudo que as envolve.

    Não existe incompatibilidade em os participantes não serem profissionais "exclusivos". Isso não é de fato um problema para fazer um bom espetáculo. O que é de fato necessário, é a administração do espetáculo ser profissional e pensar em termos globais, no que funciona, o que não funciona, o que o público espera e o que é possível fazer com o material disponível para criar uma boa corrida, e assim , ter um espetáculo atraente.

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  2. Amigo Marquinho,
    concordo contigo e concluo: o automobilismo nos moldes atuais é viável (como evento) apenas para organizadores de algumas categorias, onde eles alugam motores e até carros completos como Mini Cooper, Sprint Race, etc. mesmo assim como esporte não existem!
    Categorias nos moldes antigos com cada um fazendo o seu, e com a responsabilidade executiva e promocional de confederações e federações estão condenadas, pois nestes últimos casos o amadorismo impera, tanto da parte da organização como da parte dos participantes.

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  3. Fabiani C Gargioni #279/27/2013 9:17 AM

    Concordo com vc em tudo Lacombe. E realmente, se não se pensar no automobilismo como um espetáculo estamos fadados a realmente as corridas ocorrerem em autódromos sem arquibancada e sem nenhum tipo de transmissão, uma pena. OBS: gostei do último parágrafo do teu texto, é a realidade...

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