terça-feira, 15 de outubro de 2019

NOT A HARD DAY’S NIGHT: A PENSKE RACING’S DAY (pt. 2) By Geferson Kern

By Geferson Kern
     Os 1000 km de Bathurst estavam mais ou menos na metade, na tarde dominical australiana, quando veio a bandeirada da Petit Le Mans, ainda na noite de sábado estadunidense. Do outro lado do mundo, Roger Penske recebeu a notícia: seu programa com a Acura na IMSA já era vitorioso. Não levou a prova, mas o campeonato, apenas em sua segunda temporada, no ano do 50º aniversário da famosa entidade.
     O trunfo veio na prova de 10 horas – que desde o ano de sua criação, em 98, até 2014, durava 10 horas ou mil milhas, o que ocorresse primeiro – disputada anualmente no mês de outubro no fantástico traçado de Road Atlanta, circuito de 4,088 km pertencente à Nascar. E nem foi preciso vencer: à tripulação do carro #6, de Juan Pablo Montoya, Dane Cameron e Simon Pagenaud, bastou chegar em quarto lugar para assegurar a taça aos dois primeiros – o francês esteve presente somente nas provas de maior duração e que exigem um terceiro piloto a bordo, como a própria autointitulada versão reduzida de Le Mans e as famosíssimas 24 Horas de Daytona e 12 Horas de Sebring.
     Estas três provas, diga-se, mais a também decana 6h de Watkins Glen, formam a Michelin Endurance Cup, um campeonato dentro do campeonato principal – oficialmente chamado WeatherTech SportsCar Championship –, com pontuação própria, de modo a valorizar somente as provas longas do campeonato – as seis restantes não passam de 2h45min de extensão. Pois bem: a copa das corridas de maior resistência coroou o time dos brasileiros Felipe Nasr e Pipo Derani mais o americano Eric Curran. O trio da equipe Action Express, dirigida pelo também brazuca – e recém-aposentado – Christian Fittipaldi, foi imbatível na temporada com seu Cadillac: o ano começou com um segundo lugar sofrido em Daytona, numa vitória que escorregou por entre os dedos, instantes antes da bandeira vermelha que determinou o final precoce da prova. Em Sebring, a vitória, terceira de Derani na prova e segunda consecutiva. Para Nasr, sua primeira conquista nas 12 horas mais famosas do planeta. O sétimo lugar em Glen parecia colocar em risco o troféu, mas uma vitória com autoridade justamente na Petit Le Mans deu a taça aos brasileiros – que ficaram apenas cinco pontos atrás dos vencedores Montoya e Cameron no campeonato principal.
     A vitória na corrida derradeira do ano, aliás, foi digna de nota. Após largar na pole – com direito a quebra de recorde do circuito por parte de Nasr –, a equipe do #31 reassumiu a ponta a apenas 20 minutos do final, quando o outro carro do time, o #5 dos portugueses João Barbosa e Filipe Albuquerque e do inglês Mike Conway, abandonou. Cruzaram a linha de chegada apenas 996 milésimos à frente do segundo colocado com Regner Van der Zande, Jordan Taylor e Matthieu Vaxiviere também num Cadillac – o #10, mesmo carro em que Fernando Alonso e Kamui Kobayashi estavam quando venceram a prova de Daytona em janeiro. Foi a despedida de Jordan da temida máquina da equipe do pai, a Wayne Taylor Racing, já que no ano que vem ele seguirá os passos do irmão e deixará o time – pilotará para a equipe oficial da Corvette nos GTs.
     Seu irmão Ricky, diga-se, chegou logo atrás – e aí voltamos à saga da Penske: o talentoso americano fechou o Top3 no Acura #7, que divide com Hélio Castroneves, carro que teve ainda Alexander Rossi (ele mesmo) em Daytona e Sebring e Graham Rahal como terceiro piloto em Road Atlanta – talvez pelo compromisso de Rossi em Bathurst, pela Supercars. O time de Helinho conquistou a primeira vitória da equipe do Capitão em seu retorno à IMSA, ainda no ano passado, em Mid-Ohio. Neste ano, no entanto, apesar da regularidade, não veio nenhum primeiro lugar, mas o terceiro lugar na corrida decisiva e no campeonato são demonstrações da força de carro e pilotos como competidores da categoria.
     Mas os grandes laureados mesmo foram Montoya e Cameron. Que, em dez provas, só ficaram fora do pódio em três – justamente nas mais longas: Daytona, Sebring e Road Atlanta. Foram três vitórias, coincidência ou não, em pistas relacionadas com a Indy, em Mid-Ohio, Detroit e Laguna Seca. Some a isso um segundo lugar em Elkhart Lake e três terceiros, em Long Beach, Watkins Glen e Mosport – N. do E.: só tem circuito fantástico nesse calendário! – e aí está a campanha do título. Uma grande evolução em relação ao ano de estreia, quando Montoya/Cameron terminaram em 5º e Castroneves/Taylor em 7º no campeonato. Os ganhos em velocidade e resistência dos Acura, cujos chassis são fabricados pela Oreca, foram consideráveis para que a operação da Penske desbancasse os nomes estabelecidos da categoria – não pense que há jogo fácil com essa turma.
     Não fosse assim e a Penske não se preocuparia em contratar Cameron e Taylor, dois dos melhores nomes dos Daytona Prototypes, os chamados DPi, para compor seus times. A eles, juntaram-se dois nomes que já estavam na casa e foram forçadamente aposentados de onde construíram seu sucesso, a Indy: Castroneves na decisão de reduzir a operação do time de quatro para três carros, de 2017 para 2018. Ainda assim, possui ao menos até ano que vem um carro garantido para buscar o tetra nas 500 Milhas de Indianápolis. Com Montoya, a coisa foi mais drástica, e também aí se percebe o quão especial é este piloto colombiano.
     Resgatado da Nascar em 2014, Juan Pablo perdeu o título da Indy no ano seguinte de forma dramática: o colombiano, também campeão das 500 Milhas naquele ano, terminou todas as provas, desde a primeira, como líder do campeonato. Exceto a última, quando não chegou a deixar de ser líder por pontos, mas perdeu a taça para Scott Dixon no número de vitórias, após tocar o próprio companheiro Will Power na decisão, em Sonoma, cair para o fundo do pelotão e chegar apenas em sexto, o que não impediu o trunfo do neozelandês, azarão naquela disputa. Em 2016, uma campanha apagada com apenas uma vitória e o oitavo lugar no campeonato – enquanto seus companheiros fizeram 1-2-3 na tabela, logo à frente do maior talento ascendente da categoria, Josef Newgarden, que já havia vencido três vezes na carreira pela pequena Carpenter. A Penske apostou em Newgarden e deixou Montoya na geladeira: em 2017, enquanto o novato da casa pagava sua contratação e ganhava o título da Indy de cara, Montoya corria apenas em Indianápolis, num incrível esquema do time com cinco carros, enquanto preparava a equipe para estrear na IMSA. Hoje, colhe os frutos da fidelidade e de uma longevidade talvez um pouco surpreendente, para alguém nunca muito afeito a cuidar do próprio físico e que não parece ter tomado as decisões mais corretas do planeta em certos momentos de sua carreira, mas que sempre foi dono de um talento natural extraordinário.
     Horas após o término da Petit Le Mans, quando Scott McLaughlin recebeu a bandeirada para vencer os 1000 km de Bathurst, Roger Penske talvez tenha pensado em realoca-lo dentro de seus negócios nas corridas. Ele parece talentoso e rápido o suficiente para encarar um programa competitivo nos EUA, em alguma categoria como a IMSA ou a Nascar – quem sabe até um teste na Indy, que tal? Não será fácil, no entanto. Onde quer que esteja por perto, Roger Penske está vencendo. Dominando. Quase sobrando. Vencer provas ou campeonatos emblemáticos em lados opostos do globo num mesmo dia é só mais um dia nas corridas para o dono de um dos maiores impérios automotivos do mundo.

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