segunda-feira, 14 de outubro de 2019

NOT A HARD DAY’S NIGHT: APENSKE RACING’S DAY (pt. 1) By Geferson Kern

By Geferson Kern
   Esta é a segunda-feira seguinte a um sábado de corridas para Roger Penske nenhum botar defeito. Literalmente.
     O fim de semana, pois, foi pra lá de concorrido. Categorias incríveis em circuitos extraordinários. O Capitão resolveu deixar sua terra natal e preterir a decisão do título da IMSA, nas já tradicionais dez horas de duração da Petit Le Mans, ou a sempre especial prova de outono – no hemisfério norte – da Nascar em Talladega. Foi ao outro lado do planeta ver seus investimentos na (antiga V8) Supercars, na prova mais prestigiada do campeonato: os 1000 km de Bathurst, no maravilhoso circuito de Monte Panorama.
     Mr. Penske entrou na competição há pouco. No fim de 2014, comprou 51% das ações da Dick Johnson Racing, a mais antiga equipe do campeonato, fundada e chefiada pelo lendário ex-piloto homônimo, pentacampeão da categoria e tricampeão da famosa prova na montanha. O time, rebatizado como DJR Team Penske, teria Marcus Ambrose, australiano revelado no Supercars e recém-saído de sua aventura na Nascar, como principal estrela, mas ele desistiu logo na segunda prova de 2015. Depois de duas temporadas nem tão chamativas, o time foi buscar seu Josef Newgarden oceânico. E encontrou seu caminho.
     Scott McLaughlin, curiosamente, é neozelandês como Scott Dixon, maior adversário de Newgarden e de qualquer um que sente seu traseiro num Penske nos anos 2000, pela arquirrival equipe Chip Ganassi. Nascido em junho de 93, competia desde 2010 por competições de suporte ao Supercars ou na versão da categoria de seu país. A oportunidade no campeonato principal veio em 2013. Após quatro temporadas a bordo de um Holden ou Volvo pela tradicional equipe Garry Rodgers, foi chamado para a operação conjunta entre Johnson e Penske, onde pilotaria o lendário #17 usado nas pistas pelo lado australiano da direção do time. Somou-se a isso o apoio da Ford, que já estava com a Penske na Nascar, bem como da Shell, patrocinadora de Joey Logano na mesma categoria e que também investe na Indy, com sua marca principal e a Pennzoil, sempre presente nos carros de Hélio Castroneves em Indianápolis.
     A receita foi quase certeira já no primeiro ano. Em 26 corridas, entre provas longas e baterias, fez 16 pole positions e venceu oito vezes. Na última bateria da prova decisiva, em Newcastle, teve um dia conturbado: sofreu nada menos do que três penalizações e terminou só em 18º. O título escorria entre os dedos e ia para Jamie Whincup, maior campeão da categoria, com sete títulos, que compete pela Triple Eight, o time oficial da Holden – subsidiária da GM na terra dos cangurus –, com patrocínio da Red Bull e status de equipe a ser batida na Austrália. Pelo menos era assim até a chegada de McLaughlin à operação da Penske.
     Afinal, desde aquele fatídico dia, não teve pra ninguém. Em 2018, foram 13 poles e nove vitórias em 31 rodadas. Estava carimbado o primeiro título, batendo os três carros da Triple Eight, que vieram na sequência na classificação – o também neozelandês Shane Van Gisbergen foi o rival direto pela taça, seguido de Whincup e do veterano tricampeão Craig Lowndes, que se aposentou ao final do ano. Mas nada que se compare ao massacre que vem sendo a atual temporada, a primeira em que a Ford substituiu o velho Falcon pelo Mustang.
     Quando escrevo, logo após a visita anual dos Supercars a Bathurst, passaram-se 25 rodadas de 32 previstas. McLaughlin já largou na pole 15 vezes e venceu por incríveis 18. Seu companheiro Fabian Coulthard – nada a ver com o ex-piloto de Williams e McLaren na F1 – ganhou outras duas provas, o que dá ao time de Johnson e Penske 20 vitórias em 25 bandeiradas, incríveis 80% do total. O atual campeão ficou de fora dos quatro primeiros somente duas vezes – em uma delas, sequer largou. Lidera com 622 pontos sobre o rival mais próximo, van Gisbergen, com 1050 tentos em jogo nas sete baterias divididas em três pistas restantes para o complemento do campeonato – a próxima na icônica Surfer’s Paradise, que qualquer fã de Indy que se preze conhece muito bem. Apesar de tudo, ainda faltava algo.
     Não falta mais.
     Os 1000 km de Bathurst são as 500 Milhas de Indianápolis do Supercars e do automobilismo australiano. O lugar por si só é especialíssimo: um circuito de 23 curvas com 6,213 km, que existe cinco vezes por ano, quando as estradas montanhosas que o formam são fechadas para a prova dos supercarros ou as maratonas de 6 e 12 horas de duração, voltadas a carros de produção bem espertos (uma BMW M3 ganhou lá esse ano) e GTs, respectivamente. A corrida, cujo maior campeão é Peter Brock, com nove conquistas – e por isso o troféu entregue aos vencedores leva seu nome –, já foi disputada 62 vezes. Dominar a montanha não era uma novidade para Dick Johnson, com três vitórias lá, mas sim para Roger Penske. E é claro que o maior campeão da história de Indianápolis entraria de sola para chegar ao feito.
     Na Austrália, Mr. Penske viu seu mais novo pupilo estabelecer o recorde para a categoria Supercars do circuito e conquistar a posição de honra no grid de 26 carros. Para a prova, em que os pilotos regulares do campeonato são acompanhados de convidados, McLaughlin teria a companhia estrelada do francês Alexandre Prémat, antigo piloto regular da categoria e vencedor do GP de Macau de F3, Le Mans Series e 24 Horas de Nürburgring. O duo, que havia abandonado na primeira participação conjunta em 2017 e chegado em terceiro no ano passado, desta vez completou as 161 voltas antes do que todos os outros.
     Não foi necessariamente fácil nem isento de polêmicas, no entanto. A Triple Eight, sobretudo, jogou pesado: seus pilotos full time, Whincup e van Gisbergen, foram acompanhados de Craig Lowndes e Garth Tander, segundo e quarto, respectivamente, na lista dos maiores vencedores da história do Supercars. Terminaram no Top5, tal qual o ex-campeão James Courtney, que correu com Jack Perkins e levou ao pódio a Andretti – sim, o time também está na Austrália, em operação conjunta com a United – chefiada por Zak Brown, CEO da McLaren – e a Walkinshaw, dirigida por Ryan, que é filho de Tom – entre outras coisas, conhecido por ser o último dono da equipe Arrows na F1. Michael Andretti também foi responsável por levar Alexander Rossi e James Hinchcliffe a Oceania para esta prova, em carro patrocinado pela mesma NAPA que banca Rossi na Indy e chegou 19º. Quem também tem relações com a categoria americana é Simona de Silvestro, que corre num dos quatro Nissan Altima do campeonato. Os japoneses, porém, não levaram grande sorte no duelo contra Holden e Ford: seu melhor carro chegou em nono, com a dupla Rick Kelly e Dale Wood.
     A prova em Bathurst já ia para os finalmentes na hora em que surgiu o motivo de bafafá do fim de semana: McLaughlin liderava quando Coulthard, em segundo, reduziu o ritmo e permitiu ao parceiro de equipe aumentar a vantagem na liderança, de modo suficiente a fazer o pit stop que lhe restava e voltar na ponta. O time alegou que mandou Coulthard reduzir o ritmo para diminuir a temperatura do motor. A direção de prova, no entanto, aplicou um drive through no piloto. Os rivais, em especial a Triple Eight, continuam esperneando e há quem aposte que a vitória de McLaughlin – conquistada por ínfimos 0s68 sobre van Gisbergen, numa corrida com cerca de 6h30min de duração – possa até ser revertida. Até segunda ordem, porém, ele é o vencedor, diante dos olhos de 201.975 espectadores (sim, mais de 200 mil australianos, pelo quinto ano seguido) que estiveram no Monte Panorama ao longo dos quatro dias de programação. E de Roger Penske, que aos 82 anos, não se cansa de colecionar vitórias, títulos e eras dominantes em qualquer operação automobilística que leva seu consagrado sobrenome.
     E ele ainda venceu a IMSA no mesmo dia, mas isso fica para a segunda parte do texto.

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