terça-feira, 27 de agosto de 2019

Throwback Darlington: quando a Indy correu na Dama de Preto! By Geferson Kern


     Casa de uma das etapas mais prestigiadas da Nascar no próximo fim de semana, o Darlington Raceway, nos primórdios, já foi palco de uma etapa da Indy. Um daqueles casos obscuros, ocorrido nos anos 50, do qual se tem pouco ou nenhum registro por aí – mas que parece interessante e, pelo ponto de vista do fã de corridas, seria legal se fosse reprisado.
     Diga-se que, reza a lenda, uma das motivações para a construção de Darlington foi o sucesso de Indianápolis. O fundador da Dama de Preto foi o piloto aposentado Harold Brasington – que tinha negócios na agricultura e construção civil –, que havia competido contra o fundador da Nascar, Bill France, em provas no velho circuito praiano de Daytona e outras dirt tracks do sul dos EUA.
     Enquanto assistia as 500 Milhas de Indianápolis de 1948 e ver o sucesso de público da prova, teria exclamado que, se Tony Hulman – que havia comprado e resgatado o Speedway da ruína três anos antes – podia fazer isso lá, ele poderia fazer o mesmo em sua casa, na Carolina do Sul.
    Dito e feito: Brasington adquiriu uma área onde se plantava algodão e amendoim e começou a construir seu autódromo. Conta-se que precisou fazer as curvas 3 e 4 menores e menos inclinadas do que a 1 e 2 pois havia prometido ao proprietário da terra adquirida, o fazendeiro Sherman Ramsey, que o circuito não perturbaria a criação de peixes mantida por ele naquele trecho da pista.
     Estava assim construído o primeiro egg-shaped oval (literalmente, oval em formato de ovo, por mais redundante que isso pareça, com a base maior do que o topo) da história.
     As inspirações no circuito de Indiana não pararam por aí: no ano de inauguração da pista, em 1950, Brasington fez um acordo com a Nascar para realizar sua própria prova de 500 milhas – a Southern 500, prova do próximo fim de semana que ocorre até hoje. Ela ocorreria também num feriado tradicional dos EUA, o Dia do Trabalho, o Labor Day – lembre-se que a Indy 500 acontece desde sempre no Memorial Day, no fim de maio. Mais de 80 pilotos apareceram para se inscrever.
     A triagem foi feita num sistema de duas semanas de classificação, inspirado nem preciso dizer em qual prova.
     Por fim, 75 (!) carros foram autorizados a largar – e o fizeram em fila de três. Isso lembra você de algo?
    As 500 milhas sulistas foram um sucesso desde a estreia, com um prêmio recorde, à época, de 25 mil dólares. E, três meses depois, era hora da próxima grande atração do recém-inaugurado circuito: a etapa decisiva da AAA Champ Car Series, como era oficialmente chamada a Indy da época.
     A prova possuía 160 voltas e 200 milhas de duração. A pole position foi de Bill Schindler, enquanto a vitória ficou com Johnnie Parsons, que havia vencido as 500 Milhas de Indianápolis meses antes.
    A  prova, de fato, decidiu o título: com um terceiro lugar, Henry Banks somou 280 pontos, enquanto seu rival, o novato Walt Faulkner, conquistou somente 100 com um oitavo lugar. Foi o suficiente para Banks, um veterano de Indianápolis então dom 37 anos, que se tornara o primeiro a passar no hoje tradicional rookie test na história, em 1936, levantar a taça de 1950, com 1390 pontos no total, ante 1317 de Faulkner.
     A corrida de Darlington voltaria ao calendário no ano seguinte, com um propósito parecido com o das similares de 500 milhas: ser realizada num feriado tradicional americano. A prova foi marcada exatamente para 4 de julho, Dia da Independência estadunidense. A distância da prova foi aumentada para 250 milhas, o que significava 200 voltas.
     Desta vez, o texano Faulkner, que no ano anterior havia se tornado o primeiro novato da história a largar na pole de Indianápolis, conseguiu a vitória. Para o 52, a corrida saiu da Carolina do Sul e foi para a vizinha Carolina do Norte, em Raleigh, em outro raro oval pavimentado da época: o recém-construído Southland Speedway, circuito de uma milha de extensão e onde a Nascar sancionaria as primeiras provas noturnas de sua história.
     Em 53, a data de 4 de julho foi para uma dirt track, o Michigan State Fairgrounds Speedway, oval de terra em Detroit – lembre-se que o superspeedway de Michigan só seria inaugurado em 1968, enquanto ninguém ainda havia tido a ideia de fazer uma prova nas ruas da capital mundial do automóvel.
 

     Darlington voltaria à Indy em 54, em corrida outra vez com distância de 200 milhas e que viu uma das duas únicas vitórias da carreira do desconhecido Manny Ayulo, que morreria nos treinos para Indianápolis no ano seguinte. A última tentativa com o egg-shaped oval sulista veio em 56, outra vez no Dia da Independência, na mesma data em que constava no calendário, como prova extracampeonato, a famosíssima Subida de Montanha de Pikes Peak.
     A vitória ficou com Pat O’Connor, que também perderia a vida pouco depois na Indy 500 – mais precisamente na edição de 58, numa carambola com 15 carros ainda na primeira volta, um ano após fazer sua única pole position na grande corrida. 


     Ah: enquanto isso, em Pikes Peak, a futura lenda Bobby Unser conquistava a segunda de suas dez vitórias nas montanhas do Colorado.
     Darlington também perderia espaço na Nascar com o tempo. De 61 a 2004, sediou duas provas por ano – a primeira na época da primavera. Em 2004, ainda, perdeu sua famosa data no Labor Day, que só lhe fora devolvida em 2015.
     A chance de voltar a receber duas provas dos stock cars por ano ou de receber a Indy? Me parece que quase zero.

     Resta desfrutar da história e curtir a semana de tributo a ela a ser prestada na pista que é resistente demais para ser domada.

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