terça-feira, 3 de setembro de 2019

CALENDÁRIO - Muito Além de sua pista preferida! (Pt. 1) by Geferson Kern


     A Indy divulgou seu calendário para 2020 no último fim de semana. Mais interessante do que a própria relação de provas e datas, porém, são as nuances que rodeiam sua formatação. Tenho lido coisas realmente interessantes a respeito nos últimos tempos – e olha que eu nem convivo nos bastidores para ter informações realmente reveladoras – e sinto falta de material a respeito em português, então me pus a considerar alguns tópicos. Antes de qualquer coisa, esteja ciente: é tudo um negócio em que alguém precisa pagar a conta. 
     E se aquela sua pista preferida que deixou saudades não se encaixa nisso, ela simplesmente está fora do jogo. Sem chorumelas.
     O primeiro encaixe a ser feito envolveu a recém-instituída prova no Circuito das Américas. Se mantivesse a data ao fim de março na qual esteve neste ano, a prova de Austin teria de ser realizada em 22 ou 29 de março, o que seria um problema: a primeira data é a mesma das 12h de Sebring, tradicionalíssima corrida de Endurance organizada pela IMSA. Há muitos pilotos e times da Indy envolvidos na prova da Flórida e um bom relacionamento entre as ambas as entidades – a IMSA faz preliminares para a Indy em Long Beach e Detroit, por exemplo. 
     Na segunda data, mais problemas: o conflito se daria com a prova da Nascar no Texas Motor Speedway, que fica a três horas de carro dali. Ainda por cima, o mesmo circuito receberia a MotoGP apenas uma semana mais tarde, o que poderia dividir a base de fãs.
     Deu pra sentir um pouco do drama?
     Ressalta-se que, até 2017, o contrato da Indy com o oval em Fort Worth previa exclusividade daquele autódromo para provas da categoria no Texas. A cláusula só foi derrubada quando estabelecido o novo contrato entre as partes, no ano passado, o que permitiu a inclusão do COTA – e as partes tem tentado manter uma certa política de boa vizinhança, pelo que se percebe. A solução foi realocar a corrida de Austin em 26 de abril, após as provas de Barber e Long Beach. 
     Uma boa sacada também do ponto de vista logístico, já que uma semana antes as equipes estarão na California e apenas farão uma parada no Texas para a próxima prova antes de retornar a Indianápolis, que serve de sede para a maioria e, não por acaso, é a próxima parada do calendário, com os eventos que dispensam apresentações e ocupam quase todo o cultuado Mês de Maio.
     Aliás, este será o maio mais movimentado da história da categoria: serão nada menos do que quatro corridas, numa folha de calendário que, historicamente, sempre contou com apenas uma – as 500 Milhas de Indianápolis, é claro. 
     Pois desde 2014, para tornar a programação do mês mais atrativa ao público, a categoria criou um grande prêmio no circuito misto do Speedway, a ser disputado em 09/05. E este é um dos raros anos em que as 500 Milhas não ocorrem no último domingo de maio: o correto, afinal, é dizer que a prova ocorre sempre no domingo imediatamente anterior à última segunda-feira do mês, feriado nacional nos EUA – o Memorial Day, em homenagem aos americanos mortos em guerras. Desta forma, a prova sempre ocorrerá no máximo no dia 30 e no mínimo no dia 24, exatamente a data deste ano.
     Além das duas provas na Capital Mundial do Automobilismo, maio terá as corridas da rodada dupla de Detroit. A data da prova, sempre uma semana após as 500 Milhas, é bastante contestada pelos fãs – e, imagino, pelos times também: depois de todo o desgaste do Maio extenuante em Indianápolis, as equipes são submetidas as três corridas nos dois fins de semana seguintes – ainda há a prova do Texas Motor Speedway na semana subsequente. Mas, para tudo na vida, há uma explicação, bem diz a minha mãe: a corrida na Capital do Automóvel tem promoção do grupo de Roger Penske e é patrocinada pela Chevrolet, uma das fornecedoras de motores da categoria e sediada na cidade. 
     A corrida é uma excelente oportunidade para o Capitão trabalhar suas relações com a montadora, aproveitando a euforia ainda fresca pela realização das 500 Milhas. E manter boas relações com apoiadores de tal envergadura também é importante para a categoria. Assim sendo, o Dual in Detroit está confirmado para os dias 30 e 31/05.
     A data da prova de Detroit é motivo de reclamação, entre outros, de Eddie Gossage, presidente do Texas Motor Speedway. Em sua visão, a corrida seguinte a Indianápolis deveria ser no seu circuito, como sempre ocorrera nos tempos de IRL. Seria um melhor negócio pra ele e também para a categoria, afirma o dirigente, com a prova seguinte às sempre excitantes 500 Milhas tendo como palco um circuito conhecido por disputas frenéticas nas provas da Indy, mantendo a euforia dos fãs em alta. 
     É possível que ele tenha seu desejo atendido em breve: a corrida de Detroit só continuou a existir mediante autorização do Departamento de Recursos Naturais do Estado de Michigan. A permissão vale até 2021 e pode ser renovada até 2023. O temor do órgão é de que a prova cause danos à Ilha Bela, região turística e de rica natureza onde está o circuito de rua da única rodada dupla do campeonato. Para 2020, Gossage vai ter mesmo de aturar outra vez a prova de Detroit até que os IndyCars desembarquem em sua pista, dia 06/06.
     A semana seguinte ao Texas (14/06) é de Dia dos Pais nos EUA. Os organizadores costumam evitar provas em datas como esta. Observe que nunca há corridas americanas na Páscoa (que cai em 12/04 em 2020) ou no domingo do Dia das Mães – o GP no misto de Indianápolis ocorre sempre no sábado daquele fim de semana. O mês de junho é completado pelas provas de Elkhart Lake (21/06) e Richmond (27/06), corrida noturna que retorna ao calendário, onde já esteve de 2001 a 2009. 
     Vejo com bons olhos o retorno do oval na Virgínia, que será a menor pista do calendário (com 0,75 milhas de extensão), mas vamos colocar um asterisco aí: o circuito é de propriedade da International Speedway Corporation, empresa que tem a Nascar como principal acionista e é dona de 13 autódromos nos EUA. Entre estes, estão os de Phoenix e Watkins Glen, onde a Indy tentou correr recentemente sem grande sucesso. E não se esqueça da velha máxima: tudo tem uma explicação.
     Pelo que pude depreender dos escritos do jornalista americano Robin Miller, sobretudo na seção semanal do site Racer.com, em que interage com os fãs, os contratos da Indy com estes circuitos envolviam uma espécie de aluguel pago pela categoria para ocupar o espaço. 
     Assim, com caixa garantido, os autódromos, pertencentes ainda que de forma indireta a uma organização historicamente rival, não faziam lá grandes esforços para promover as provas de IndyCar que lá ocorriam. Lembro de ter visto uma carta de um velho fã a Miller que residia na região de Phoenix e testemunhava não ter visto anúncios da prova em lugar nenhum. Jornal, rádio, outdoor ou que quer que valia.
     Não é só isso, claro: a Indy perdeu espaço no mercado americano por N razões ao longo do tempo. Presença maciça de estrangeiros, descaracterização da categoria, racha CART-IRL, etc. Phoenix era um território da Indy, não da Nascar. Foi construída para receber os IndyCars e, por quase vinte anos, sediava duas provas da categoria por ano. Com o passar do tempo, pelas razões superfluamente supracitadas, os fãs passaram a preferir os stock cars. 
     O resultado está aí: em 2020, o há pouco reformado circuito de Phoenix será a nova sede da prova de encerramento da Nascar. Já cada corrida da Indy realizada no Arizona entre 2016 e 2018 não conseguiu colocar nem 10 mil pessoas ao autódromo. Ocorrerá o mesmo com Richmond? Torçamos para que não. 
     Ou o leque de ovais que consiga abrigar uma prova da Indy com segurança e que não resulte em (grande) prejuízo, em especial por falta de interesse do público, se encolherá ainda mais.
     Falamos apenas sobre a primeira metade do calendário e já estou na terceira página de Word, com Times New Roman fonte 12 e espaçamento de 1,5. O resto vem amanhã. Abaixo, o calendário completo da temporada:

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