9 e maio de 2013.
Se você já furou a fila na balada, para ganhar tempo, passando na frente de quem está lá há um tempão, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já comprou algo sem nota, para pagar menos, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já dirigiu sem carteira de motorista, porque “era só até a esquina”, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já comprou ingresso com desconto de estudante, mesmo já formado, porque “todo mundo faz assim”, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você contrata seus funcionários e exige nota fiscal, em vez de pagar na carteira, com o objetivo de pagar menos imposto, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você organizou algum tipo de sorteio ou promoção, e deu dicas e atalhos para amigos, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você recebeu troco a mais, e não devolveu depois de perceber o valor errado, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você usou equipamento da empresa para fazer um job de freelancer, quando isso vai contra as normas da companhia, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já estacionou em local proibido (vale vaga de idosos e gestantes), porque era “não ia demorar nem cinco minutos”, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você entrou num casamento, 15 anos ou formatura sem ser convidado (talvez até usando o nome de outra pessoa, e prejudicando a entrada dessa pessoa), você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você comprou um pneu, rádio, antena ou roda de origem duvidosa, e não conferiu para aproveitar a oferta, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já bebeu e dirigiu, mas usou o Twitter para não cair na Balada Segura, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se, na hora do check-out do hotel, você não se esforçou muito para lembrar o que consumiu na noite anterior porque “isso já está computado no valor da diária”, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se a vista da sua casa se prejudica por uma árvore, que é protegida pelos órgãos ambientais e precisaria de autorização para ser cortada, mas você não deu a menor bola porque “eles nunca vão saber”, você é um pouco de Renan Calheiros.
Se você já empurrou a cerca da sua casa um pouquinho para o lado, avançando no espaço do vizinho, para tentar ganhar terreno, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você registrou o carro no nome de um familiar mais velho, com o único objetivo de pagar valores mais baixos no seguro, você tem um pouco Renan Calheiros.
Se você chegou tarde no restaurante, e usou a sua influência para conseguir uma mesa (passando na frente de todo o pessoal que está esperando), você é um pouco Renan Calheiros.
Se você já subornou um fiscal de trânsito para não receber multa, você é um pouco Renan Calheiros.
Se você já chamou um táxi pela rádio, mas decidiu pegar um que passou na rua, e não cancelou a sua chamada inicial, você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você pediu um livro, CD, jogo de videogame (ou até mesmo dinheiro) emprestado a um amigo, não pagou e deixou assim mesmo (“já que ele nunca vai lembrar”), você tem um pouco de Renan Calheiros.
Se você já fez um comentário racista ou homofóbico, e depois disse “estou brincando”, quando na verdade não estava, você tem um pouco de Renan Calheiros. E, neste caso, um pouco de Marco Feliciano também.
Todos os exemplos citados acima são verídicos, testemunhados por mim. Aconteceram com amigos, conhecidos, colegas de trabalho, familiares e até comigo mesmo. Muitas dessas coisas, como você deve ter se dado conta, não estão fora da lei. Mas, na minha visão, todas elas têm algum desvio de caráter.
Acredito que o problema do Brasil, antes da corrupção que tanto condenamos nas capas da Veja, nas câmeras escondidas do Fantástico e nas reportagens do CQC, é a corrupção cometida por nós mesmos.
São os pequenos delitos, supostamente inocentes, que minam a nossa cultura.
O Brasil é um país em que ser metido a malandro, em vez de gerar vergonha, é motivo de orgulho. É sinal de esperteza.
Ou você nunca ouviu alguém se exibir porque “deu um jeitinho”?
Algumas atitudes já estão arraigadas de tal forma ao nosso cotidiano que fazemos de forma automática, sem nem nos darmos conta.
Acredito no Brasil. E acredito que o Brasil pode ser o país do futuro. Se ficar de olho nos Renan Calheiros, mas se também chamar a atenção do amigo que estacionou em cima da faixa de segurança.
Essa fiscalização, que deveria acontecer de nós para nós mesmos, faria uma sociedade menos corrupta, mais solidária e mais consciente. E, só com um grau de consciência diferente do que temos hoje, é que podemos, de fato, mudar alguma coisa.
Enquanto todos formos malandros, todos seremos manés.
Não sei de você. Mas, para mim, a diferença entre um cara que rouba toalha de hotel (outro caso que testemunhei) e um que rouba verba pública é, apenas, a dimensão. O crime em si é o mesmo. O modelo mental é o mesmo. Talvez, no lugar do Senador, essa pessoa repetisse o fadado bordão: “Mas se eu não fizer, alguém vai”.
Pois é. Alguém vai. Mas até onde isso vai?
Se você leu os exemplos acima, se indentificou com algum deles, e sentiu vergonha – como eu senti –, bom sinal. Já é um começo.
Agora, meu medo é se você leu, se identificou e não viu nada de errado.
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Uma pena, mas tudo isso é verdade e tá tudo errado no país e no na nossa cultura!!!
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